domingo, 6 de dezembro de 2009

Pulsação




Insone mulher bate no próprio peito. Som das batidas ritmadas com barulhos da noite confunde noção de realidade. E o que é realidade parece não ter fim, o encontro de um fim faria necessário um novo começo e não é sempre que se pode ter nada. mistério translúcido do dia vivido dia a dia, de intensidade, sangue e saudade. Onde estou, o que é esse corpo em mim, eu viva que não sei meus limites, a insistir em me limitar no que é vivido. O que importa para tudo e sempre é a não-dor e a serenidade. Os pensamentos que me ardem no cérebro e se chocam na fronte. Faíscas que fogem em mim e me dilatam. Eu, um ser de Luz e sombras quase em equilíbrio.
O ritmo é intensificado e os pensamentos alinham se a questionar: qual mistério nesse peito não a deixa dormir? O mistério do amor secreto, a cumplicidade com o Cosmo porque ela sabe que tem dentro de si o maior amor do mundo. A grandeza do que está no peito pulsa e ela não quer dormir. Estar acordada e vigilante, ver a si mesma se basta, bastaria, mas hoje não, ficar um pouco sozinha entende? Não que o amor seja algo sufocante, ruim ou desgastante. Meu bem, você em mim é algo harmonioso, feliz e delicado. É feito a primavera de Vivaldi: vontade crescente de viver, viver no que digo não é reviver. Sei que entende.
Mulher que muito sente e vivencia, mas pouco sabe. Bastava evitar algumas desculpas (perguntas?) e teria paz de se considerar injustiçada. Mas não se sabe injustiçada, se sabe premiada. Ah, ser vítima sempre, não ser culpada, não ser escolha minha, e sempre é. Em si, sabe que nasceu para a transcendência. Ah, ser vítima sempre, que conforto arrumaria dentro de si. E tem culpa, medo, receio, revolta. Tem revolta pelos que sofrem, sobretudo a dor que pulsa. Engolir e sentir prazer na carne é monstruoso. O monstruoso no humano é a falta daquilo que pensa que não quer e quer.
Levanta mulher e toma o que te pertence e não usa: A ira, rancor e mal dizer. Saia da tranquilidade para recolher os defeitos que se perderão nos caminhos. Reviva sua existência para colher aquilo que não foi cultivado e podre caiu. A ira, rancor, o mal dizer. As nossas maldições diárias. Usar, sim: usar a ira, a raiva, a revolta porque elas são para fora. Mas o rancor... para que sempre um peito rancoroso para o portador? Rancor é vaidade estragada. E a vaidade é o que? A gente nunca explica de forma que se entenda.
Peito dolorido, braço cansado... Quase delirando de tantas verdades apanhadas. Peito dolorido que pulsa, o ar que entra quente, rasgando o peito e não vivifica. Um vento morno de deserto venta no meu rosto e há tantas historias boas de serem “nostalgiadas”. E há lugares mais quentes do que esse, sabia? Há tantos mundos quanto eu posso imaginar. Há muitos mais mundos, a criação divina que a mente limitada não pode ver. Estou em mim, viva, quente e pulsante e agora é à tarde, e eu estou fervilhando, as faíscas que saem. É isso talvez eu precise ser menos delicada e cuidadosa. Faíscas são mais pulsantes que fragmentos.
Porque compreende coisas que eu escreveria, mas muito provavelmente não estará disposta a sair do momento pulsante. Fênix. Pulsante. Minha fratura pulsa uma dor pequena e constante. Que saem por ela as coisas que me incomodam. Rasguei a mão direita num copo de vidro. Recolher os fragmentos de c-o-p-o, trabalho faz sede evaporar: vontade é de beber muita água e pouco copo. Tantos acidentes têm me acontecido que eu espero sobreviver. Ou não. Essa noite antes de dormir, rezei para morrer sem degeneração e sem dor. É o prêmio cósmico que peço. Além de 10 milhões.
Batidas ouviriam se não fossem surdos para possibilidades maiores. Quem sabe se os acidentes continuam? Ou eu não sobrevivi, eu a morta.
Fosse desejo (dela) facilmente moldaria o tempo, de maneira simples estabeleceria conceito novo de passado, futuro e presente. Simples como taças de cristal ao se tocarem. O som que se mantém “simples”, eco de duas delicadezas em choque. Batida harmônica. A hamornia que vem da simplicidade do cristal batendo. É verdade que para ser simples requer esforço? Imagino que fazer taças de cristal seja exaustivo, e mesmo ter a forma já pronta requer cuidados. Cuidado para não quebrar Sempre.
NÂO, a batida que há é desesperadora. Mulher na cama enlouquecera e como um dos braços não responde a idéia de movimento o outro toma a vez e se apropria do local machucado, retoma frenético movimento que atravessa corpo a atingir níveis profundos de sensações... Com tudo misturado, ideias, sensações, calma do passado, latência, cadencia, pulsação. Que a paz seja temporária, então. Pois se tem a luta e a persistência no sangue. É um animal rústico e teimoso. Me vi, ontem, carregando compras como meu corpo é capaz de transformar, de carregar tanto peso, tanta matéria. E depois de minha morte será tudo estático de si, nenhuma mão para aguar a planta. Serei o fluido ao invés da mão? O calor depois de um inverno que fora o seu inverno preferido na sua vida toda. Sei que não esta frio, mas se estivesse você me aqueceria? Eu precisava não te contar que vou buscar mais “esqueceres” para te deixar tranqüila.
Os animais interiores se libertam, a mão alcança no corpo deformado pela constancia do encontro o instinto. O sentimento flui para a mão e não mão para o sentimento. Corpo-alma. Uma mulher para amar e que ama. A minha boca dolorida sem os lábios dela para enche-la. A história cheia de mitos, de não-coincidências, de fatos, sentimentos, ações, travesseiros e gatos
E tudo ficou vermelho, Livre e silencioso.

ATENCAO: este é um texto que fluio em dupla

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