quarta-feira, 21 de abril de 2010

Segundas

Um dia especial começa quando ela acorda e sente que esta viva, perde ônibus e fica feliz por ter tempo de se acalmar antes de entrar no ônibus, tempo de notar a vida que acontece: o moço de bicicleta apreçado, a senhora cheia de esperança carregando uma sacola com latas, no mesmo instante em que passa um carro com uma família sonolenta, em frente ao ponto de ônibus a casa de jardim com flores grandes e coloridas, uma mulher se aproxima: Bom dia – é o que pensam, bom dia é o que vivem.
O ônibus chega semi lotado, um sorriso flui nela, idosos recebem lugar para sentar - há de ser sempre assim deseja – Bom dia, diz e escuta.
Entre os fluxos de chegadas e partidas ela se distrai com coisas de pensar e não e pensar, ate que um som agradável é percebido e a moça revolve guiar sua atenção para aquela vibração: é a fala de um moço que usa óculos para a humanidade, um homem que não vê a aparência superficial das coisas – essência - cego para a realidade humana limitada.
A voz reflete simplicidade e suavidade na tonalidade, diz coisas da vida que ele viveu, do excesso de doce que fere e limita, relata como se estivesse em um teatro, como se platéia tivesse posta a ouvir – que importa publico para aquele que já transcendeu a vista humana? - o que quero dizer é que a postura era de respeito com o ouvinte, palavras leves e ritmadas.
A diabete fez nele cegueira e ele da cegueira gratidão, ereto no ônibus em movimento ele fez parte do dia dela que também em gratidão quis para a ele algo oferecer, o moço estava acompanhado da mãe para vender alguns enfeites de cabelo, a menina vai descer no próximo ponto, antes, foi ate a senhora que estava expondo os enfeites, com R$2,00 separados, sabia que o enfeite era R$1,00, escolheu um par, a mulher delicadamente tirou os enfeites escolhidos- os de pedras verdes - e se dedicou a procurar algo na sacola enquanto a moça colocou o dinheiro sobre a sacola e saio apressadamente, a moça estava já longe, fisicamente e nas idéias quando recebeu um chamado, a senhora jogou com fé mais dois enfeites e disse: é R$1,00 o par menina, obrigada. A porta do ônibus fechou, a menina sentiu a verdade na alma e novamente sorrio – há de ser sempre assim, desejou – e foi.

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